aterrissagem
Share
O incidente que registro aqui hoje ocorreu em junho de 2023 e, desde então, tenho vontade de eternizá-lo através de uma confissão pessoal escrita. O principal motivo é que com o tempo, os detalhes sórdidos dessa anedota estão ficando turvos, e tornei uma missão de vida não esquecer das boas risadas que esse evento proporcionou.
Estava eu numa girls trip com minha prima, Mariana, e minha amiga, Rachel, aproveitando a diáspora paulistana para o Rio de Janeiro durante o feriado de Corpus Christi. Foi uma ótima viagem, o tempo estava divino e muitas pessoas conhecidas estavam na cidade, incluindo nosso querido amigo Nicolas. Para coroar esse enterprise, na última noite decidimos sair para a night, ali por Botafogo, e influenciada pelas minhas companheiras decidi convidar um rapaz para participar do rolê.
Para entendermos melhor os elos de decisão por mim tomados, precisamos nos teletransportar para o agridoce ano de 2021. Eu estava no Rio com minha amiga Mari, também na nossa última noite, fazendo um pub crawl que ia de mal a pior. Num ato de desespero que também era uma tentativa de salvar a noite, eu disse para ela: "Vou abrir o tinder e a primeira pessoa que eu der match, vamos chamar para sair!", fazendo com que eu desse match com o garoto em questão. Acabou que não deu em nada e ele acabou ficando adormecido entre meus seguidores no Instagram, mas passou a ser meu único contato possível na cidade maravilhosa.
Voltando para 2023, eu decidi, depois de dois anos, chamá-lo para sair. Ele encontraria nós quatro ali em Botafogo. Eu estava bem nervosa pois sempre ODIEI encontros às cegas e, apesar de já ter estado no bumble e no tinder, esse foi meu primeiro date indiretamente ou diretamente proporcionado por um aplicativo de relacionamento (o primeiro de dois!). Antes de sairmos para o bar, paramos para encontrar o Nicolas na casa em que ele estava hospedado, onde chegando fomos recepcionadas por uma diva, bem mais velha, que ficou dando em cima de nós três garotas. Chegamos lá, bebemos um vinho e estava tudo divertido, até que... Quebrei uma taça. Esse é sempre um momento desmoralizante, então fiquei morta de vergonha e comecei a me desculpar. A diva disse que não tinha problema, e que quebrar taça era algo ótimo(!), pois significava uma descarga de energia acumulada. Nesse caso, acho que era, na verdade, um mau presságio.
Seguimos com nossa noite e fomos para um bar chamado "Calma", onde meu date nos encontraria. Eu já estava levemente alcoolizada, mas comecei a beber ainda mais, pois estava nervosa com o encontro. E se ele for feio? E se ele não tiver nada a ver comigo? Minhas mãos estavam suando frio só de pensar no momento constrangedor da chegada dele e, com isso, os negronis foram indo para o sangue. Depois de cerca de uns 40 minutos, ele chegou, e graças a Deus o gelo se quebrou rapidamente. Estar acompanhada de queridos amigos tornou a situação menos aflitiva.
Ele era bem tranquilo e, conforme a noite passava, tudo foi ocorrendo bem. Estávamos os cinco nos divertindo e conversando, indo de um bar para o outro e naturalmente eu fui me embriagando mais. Eu já devia ter tomado uns três negronis, o que pra mim é quaaaase uma sentença de morte, até que chegou o momento em que eu comecei a dar umas trupicadas. Nisso, voltamos para o Calma e eu tive a brilhante ideia de beber mais um drink. Minha amiga Rachel confessou que nesse momento ela virou para o meu acompanhante e disse: "a Clara está caindo em cima das pessoas... Cuida dela...", para quem ele respondeu: "Ah, tá bom!", e nos direcionamos os dois para dentro do bar, enquanto a Rachel, Mariana e Nicolas aguardavam do lado de fora.
Num piscar de olhos... Aconteceu. Ali na entrada do bar havia um degrauzinho, bem piquitucho... Mas longe de ser inofensivo. Eu estava com uma bota de plataforma Dr. Martens que provavelmente requereria passadas mais altas ao transitar por degraus, o que não foi possível de processar na hora. Em poucos segundos, o atrito da frente da plataforma com o degrau (aquele maldito degrau que não servia para NADA) abriu as portas para minha pista. E eu decolei.
O bar era um corredor e, ali naquele momento, estava vazio. Vazio para eu poder performar em liberdade total. Nenhum obstáculo. Eu comecei a cair, bem no comecinho do bar. Minha queda foi tão longa que eu lembro de pensar enquanto ocorria: "Não é POSSÍVEL que isso está acontecendo comigo". O ato foi tão majestoso que lembro do meu corpo estar 100% no ar. E aí começou a aterrissagem. Eu decolei, voei e aterrissei, uma performance em três atos tão completa que até parece ter durado mais de um minuto inteiro. O que começou na entrada, terminou no final do bar, pois além de cair eu trupiquei metros até escolher onde estacionar. Sabe quando você cai mas não aceita a queda? Então se começa a trupicar e tudo fica 10x pior? Eu não aceitei meu destino, mas Deus já tinha feito seus planos.
Até hoje eu não me conformo em como eu não me machuquei, pois o baque naquele chão de cimento foi tão abrupto que eu facilmente poderia ter quebrado o braço, ou cortado a cabeça. Ali no chão eu fiz de tudo para me levantar como se nada tivesse acontecido, mas eu estava tão atordoada que parecia que eu tinha acabado de me recuperar de um fever dream. E lá foi meu date ao resgate. Enquanto ele corria para me socorrer e me ajudar a levantar ele começou a GARGALHAR, assim como meus amigos que assistiram tudo de camarote, chocados. Confessaram depois que tiveram que se recompor para conseguirem checar se estava tudo bem comigo.
Eu não lembro exatamente se eu estava rindo também, mas eu obviamente tentei disfarçar e abafar o caso. Mariana, Rachel e Nicolas chegaram para ver se eu estava inteira e nisso um outro cara se aproximou me fazendo perguntas, querendo saber se estava tudo bem, fato que me irritou profundamente, pois na minha cabeça ele era apenas um enxerido querendo uma cota de participação no meu show. Perdi a cabeça e falei extremamente grossa que sim, estava tudo bem, que eu estava rindo então claramente estava tudo bem e que já tinha quatro pessoas ali me acudindo, como se não fosse suficiente. Meus amigos ficaram constrangidos com minha grosseria, assim como o homem que respondeu "Desculpa moça, é que eu sou o dono do bar... Então só queria saber se você precisava de alguma coisa". Os estímulos eram tantos que eu nem consegui ficar com vergonha, então eu respondi algo como "Desculpa, moço, é que já basta a humilhação da queda... Agora isso... Mas tá tudo bem sim, obrigada!" e ficamos todos em paz rindo da situação. Fui oferecida uma água, que me senti na obrigação de aceitar, mas mais pelo reconforto do grupo como um todo do que pelo meu nível de embriaguez (pelo menos na minha cabeça). A queda fez parecer que eu estava 10x mais bêbada do que eu realmente estava, e eu sentia que com essa gafe eu estava com um papel colado na testa escrito "NÃO SEI BEBER".
Nos recuperamos todos, eles das risadas, eu da aterrissagem, e decidimos que era um momento adequado para finalizar a noite. Paramos para comer uma batata frita e montamos num uber de volta para Copacabana, todos juntos, afinal o garoto morava bem próximo do nosso Airbnb. Descemos do carro e, antes de seguir viagem para sua casa, decidiu me acompanhar até a porta do prédio enquanto o uber esperava. Nisso, só para arrematar, eu derrubei minha bolsa na rua e todos os meus pertences se espalharam pelo asfalto, fazendo com que o coitado se agachasse para juntar todas as minhas tralhas. Eu só pensava com meus botões: "God bless his soul...", pois com todas as intercorrências da noite, ele teve uma paciência de Jó. No fim, acho que ele se divertiu com nossa turma. Me mandou uma mensagem no dia seguinte me desejando uma boa volta e minha resposta foi "Obrigada! Desculpa qualquer coisa...". Hoje, sempre que lembro dessa história tenho curiosidade de saber qual foi a impressão dele, se ele me acha insana e como pode ter contado essa história para os outros. I guess I'll never know!
No decorrer dos dias seguintes, eu, Mariana e Rachel literalmente perdíamos o ar ao relembrar o incidente. Eu mesma contei para todo mundo no meu trabalho e não conseguia parar de rir sozinha durante o expediente. Acho que já contei essa história para todo mundo que eu conheço e, agora, conto para vocês, tropilovers. Por algum motivo esquizofrênico eu tenho até um certo orgulho desse acontecimento, de tão engraçado que foi. Não sei exatamente porque, mas parece que não foi comigo e sim com uma amiga próxima. Talvez pelo fato de eu estar no Rio de Janeiro e não conhecer ninguém que estava presente, afinal, se o mesmo episódio tivesse se passado em São Paulo, eu já estaria morta, enterrada e nunca mais sairia de casa de novo na minha vida.
Enfim, espero que tenham gostado de mais um conto da minha vidoca. Um beijo e um queijo,
PS: Esqueci de um adendo importante: Em algum momento da noite nós encontramos o Defante.
2 comentários
eu fui eu tava !
só quem viveu sabe… noite inesquecível ;p
noites inesquecíveis que não voltam mais…