13 anos, franja, george harrison e stevie nicks
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O nome que eu gostaria de dar para o texto de hoje era, na verdade: Como o George Harrison destruiu meu cabelo quando eu tinha 13 anos e como a Stevie Nicks o consertou 10 anos depois. Mas ficou muito grande! No meu primeiro post, abordamos o início da lore dos Beatles; contudo, nela existem muitas vertentes. Galhos que cresceram e se transformaram em diferentes indicativos de loucuras e red flags. Um desses galhos, que contém vários outros pequenos galhos: George Harrison. Para muitos, um grande músico, para mim, um dos meus maiores hiperfocos já registrados e alma gêmea.
Se você estava na internet no começo de 2010 e não era um fã voraz de algum artista, sinto muito, mas você não viveu uma das últimas boas sensações que nossa geração Z pôde experimentar. Nessa época, meu córtex frontal ainda não estava 100% desenvolvido, então, quando os Beatles atravessaram a Abbey Road do meu coração... Something shifted. Shits about to get real weird. O resultado foram complicações mentais crônicas que carregarei comigo até o fim dos tempos.
Eu fui atacada pelo vírus do amor da Beatlemania com 50 anos de atraso, e me lembro vividamente de ter a seguinte realização mental, ao consumir conteúdos online sobre a banda: Peraí... Acho que eles são meio gatos! E eles eram, o tipo de feios-gatos que toda mulher sabe apreciar. Até escolher o dono do meu coração, já tinha amado John, Paul e Ringo, mas foi George quem me deixou num verdadeiro cambalache de paixão: caótico, intenso e desordenado.
No auge dos meus 13 anos, eu tinha certeza de que nossas almas estavam conectadas de alguma forma. Uma conexão tão forte que nos interligava entre dimensões. A vida e a morte (afinal, ele faleceu um ano depois que eu nasci!). A morte era apenas um detalhe, e não havia desculpa que meu cérebro (ou a falta de uso dele) não conseguisse criar para justificar esses pensamentos loucos e intrusivos.
Agora, falando sério, claro que eu estava muito interessada no conteúdo de valor que os Beatles tinham a me oferecer. Até hoje sonho com as melodias mais perfeitas que já escutei na minha vida, mas naquela época, eu só queria um príncipe para ilustrar minhas fantasias pessoais. Hoje, mais de 10 anos depois, a noção de que eles eram quatro homens de caráter duvidoso mudou a fantasia. Meu amor não diminuiu! Mas ele mudou.
A primeira prova concreta e visível da minha loucura foi cortar franja. Com 13 anos e semblante de fedelha (muito diferente das novas versões humanas de 13 anos que vemos por aí hoje), eu tinha certeza que esse ato me converteria automaticamente numa 60s mod. Algo que claro, me aproximaria ainda mais Dele (George). Para mim, esse gesto era um gatilho: seguido do corte dos fios, um Ford Anglia estacionaria na porta da minha casa (em São Carlos) cheio de boêmios estilo The Mamas and The Papas e atravessaria as barreiras do tempo até a Londres dos anos 60. Eu desceria do carro com meu mini vestido amarelo e sapatilhas Carel e correria até os braços do amor. A partir disso, viveríamos felizes para sempre!
Trecho da autobiografia da Rita Lee que me representa perfeitamente.
Agora, obviamente: eu fiquei horrível. Toda a fantasia foi esmagada pela minha triste realidade, e, ao invés de passar a eternidade nos braços do meu Beatle favorito com minha franja de modelo, eu passei uma noite infinita: chorando e sendo acudida pela minha família como se tivesse acabado de passar por uma perda terrível... E eu tinha. Perdi o pouco da beleza que restava ali.
O dia amanheceu e a franja não cresceu magicamente do dia para a noite. O único fato entre tantos devaneios era que eu estava péssima, e tinha que ir para a escola. Eu estava vivendo um luto, o luto por estar cada vez mais longe de me parecer com a Pattie Boyd. Pattie Boyd foi a esposa do George Harrison durante os anos 60, e a rivalidade feminina que eu criei com ela na minha cabeça era tão forte, que acho que podia ser sentida telepaticamente. Será que ela, com 70 anos, seria capaz de imaginar que no interior de São Paulo, Brasil, uma garota de 13 anos odiava-a com todas as forças?
Claro que isso tudo era inveja, e por motivos extremamente justificáveis. Ela tinha as pernas longas e perfeitas, cabelos loiros, olhos gigantes e azuis, tinha sido casada com minha paixão e até os dentes com diastema dela eram muito mais charmosos que os meus, aparelhados. Ah e claro, para coroar: ela tinha a franja perfeita. E eu odiava ela MUITO por isso. Como se, no fim do dia, a culpa de tudo isso fosse dela, e não da minha mente desequilibrada. Hoje, 12 anos depois, she's my icon!
Obviamente, conforme a vida continuou, eu desenvolvi um PTSD diretamente interligado às franjas, mas, em 2021 eu tive a proeza de inventar de cortar essa porcaria de novo, e dessa vez, não destuí só a franja como o cabelo todo. A franja foi um pouco mais sutil (na época as curtain bangs estavam em alta), mas culpo mais a cabeleireira que repicou meu cabelo inteiro e me deixou com um pseudo mullet do que meu sonho ainda adormecido de ter uma franja. Mais uma vez, fomos lá deixar o cabelo crescer, e foi o ano de 2023 que marcou minha reviravolta de superação.
2023 foi o ano em que desenvolvi uma nova obsessão por Fleetwood Mac, uma banda que eu já conhecia, mas ainda não amava de paixão. Assim como com os Beatles em 2013, comecei a consumir muito conteúdo sobre a banda, principalmente sobre a kween Stevie Nicks. Conforme minha admiração pela diva aumentava, resolvi ler uma biografia para entender melhor quem essa figura angelical era, e tenho certeza que foi uma experiência parecida com a que Moisés teve no Êxodo, vendo a glória de Deus.
Inspirada pela rainha e com ajuda da minha mãe, que é chronically online e recebeu uma propaganda no instagram de um salão de moderno, consegui, 10 ANOS DEPOIS, cortar a franja perfeita. Ainda muito apreensiva, fui e cortei numa altura segura, que aos poucos, foi sendo diminuída, e hoje, minha auto-estima depende dela! Finalmente posso dizer que superei aquele episódio, fiz minhas pazes com a Pattie Boyd, meu amor pelo George Harrison se transformou numa admiração normal e eu amo a Stevie Nicks cada dia mais. Amém!
Para registrar, deixo aqui a página do meu diário que me deu a ideia de escrever o texto de hoje.
Obrigada por chegar até aqui, e até semana que vem!
Um beijo e um queijo,
3 comentários
amiga do céu! esse texto me trouxe TANTA nostalgia, você me descreveu no auge dos meus 13 anos
como era bom ser louca por um artista né?? acho que isso moldou o caráter de toda uma geração; quando a sua obsessão pelo George Harrison se tornou uma admiração normal, você também sentiu um mini tédio? hjahahah
ansiosa pelo próximoooo
Tô obcecada por isso aqui e ansiosa pelos próximos …
Verdade mais q pura tudo isso